A interdição do frigorífico da JBS em razão do contágio de coronavírus, em Passo Fundo, desde 24 de abril, refletiu em prejuízos para o setor aviário, sobretudo aos produtores de frango de corte da região que trabalham em parceria com a indústria. Sem o abastecimento na unidade, os trabalhadores veem muitos dos seus produtos passarem do ponto de abate e, muitas vezes, registrando mortes nos aviários.
É o caso dos produtores Gilmar Rodrigues, que possui propriedade em Pontão, e da Natiele Albuquerque Sonza, do distrito de Bela Vista, interior de Passo Fundo. Ambos produtores receberam de surpresa a notícia da interdição do frigorífico que abastecem em Passo Fundo. No caso de Gilmar, a produção, por lote, chega em média a 200 mil frangos. Já Natiele fecha o lote com uma média de 80 mil frangos para corte.
“Estamos com essa encrenca. Dentro dos aviários já não há mais espaço, a mortalidade está aumentando”, diz Gilmar. Ele explica que os frangos são projetados para serem abatidos entre 27 e 29 dias. O estágio atual é superior a 35 dias. “Está aumentando a densidade e não sobra quase nada de espaço. Está muito complicado”, desabafa. Segundo o produtor de Pontão, a projeção de mortalidade está entre 3% a 4% nos seus aviários.
Segundo o produtor, a unidade busca algumas soluções, como repassar os frangos para unidades de Santa Catarina, Paraná e até mesmo Rio Grande do Sul. “É conforme o tempo que eles têm para abater, sendo que em outros locais, já tem frango suficiente também”, completa.
Há seis anos trabalhando na propriedade em Bela Vista, Natiele Albuquerque Sonza trabalha junto da família do marido, que possui mais de 40 anos de atividades. Segundo ela, não abater totalmente os frangos nunca havia acontecido nas quatro décadas da propriedade. “Nesse tempo todo, nunca foi vista essa situação. Mesmo por empresas que passaram por falência. Nunca foi deixado de abater”, afirma.
Natiele conta que os frangos estão no aviário com mais de 10 dias de atraso. “Já era pra ter sido abatido na semana passada, já passaram bastante do peso. Existe uma densidade alta, não conseguimos nem caminhar lá dentro. E tem muito frango morrendo”, lamenta.
Sobre os prejuízos, ela garantiu que ainda não é possível contabilizar. Mas algumas questões preocupam, como a qualidade da carne oferecida e também o financiamento dos galpões. “Nossa perda vai ser em qualidade, quantidade. Tem muita ave no galpão, com espaço reduzido, elas vão se machucando, se arranhando. A qualidade do frango não fica a mesma. Além disso, temos o prejuízo do financiamento. No fim do ano, temos que pagar a conta do financiamento com número x de lotes. Provavelmente falte esse dinheiro. Isso é o pior”, declara.
JBS aguarda desinterdição
Nesta semana, a Prefeitura de Passo Fundo desinterditou a JBS, mas apresentou condições severas para o funcionamento do serviço de abate de frango em razão do contágio de coronavírus que atingiu a indústria ainda em abril. Entretanto, para que a unidade volte a funcionar, ela ainda depende da liberação de outra interdição oriunda da Justiça do Trabalho.
Nesta semana, trabalhadores da JBS realizaram uma manifestação em busca de respostas do Executivo. Na oportunidade, o representante dos funcionários, Cristian Oliveira, declarou que, em 15 dias sem serviços, o prejuízo estimado da unidade em Passo Fundo chegou a R$ 70 milhões.