Lenon de Paula. BEI
O corpo de Gabriel Marques Cavalheiro, que foi encontrado em um açude na região de Lava Pés, no interior de São Gabriel, na tarde desta sexta-feira (19), foi sepultado na manhã deste domingo (21) em São Gabriel. O jovem, nascido em Guaíba, estava hospedado na casa dos tios no município para realizar os exames de alistamento militar. Ele teria sido avistado, pela última vez, por uma testemunha sendo colocado em uma viatura da Brigada Militar.
“Nosso trabalho é fornecer elementos que ajudem no correto andamento das investigações”, afirma perito do Caso Gabriel
Na tarde de sexta-feira (19), um perito e um fotógrafo criminalístico da 5ª Coordenadoria Regional de Perícias (5ª CRP), com sede em Santa Maria, deslocaram-se para a cidade de São Gabriel para dar suporte às buscas por Gabriel.
– Por objetivo, iríamos auxiliar na busca com o uso de um drone, que recebemos do Ministério Público, e também periciar o veículo da Brigada Militar usado na abordagem do rapaz – afirma o perito criminal e coordenador da 5ª CRP, Railander Barcellos.
No entanto, o corpo do jovem foi encontrado por volta das 16h40min do mesmo dia, e os esforços desta equipe foram direcionados para análise de um local de crime. Já ao anoitecer, após o atendimento na localidade de Lava Pés, a equipe foi até o Comando da Brigada Militar de São Gabriel, onde a viatura estava recolhida, para realizar a perícia. A equipe retornou para Santa Maria por volta de 00h15min, após a conclusão do exame no veículo.
Ao ser questionado sobre a jaqueta encontrada durante as buscas, Barcellos informou que esta foi recolhida por órgãos de segurança de São Gabriel, e não sabe qual o destino foi dado.
A viatura utilizada na abordagem permaneceu em isolamento no Comando da Brigada Militar de São Gabriel, local onde ocorreu a perícia no veículo. Foto: Eduardo Ramos
Exame de necropsia
Conforme Barcellos, alguns elementos no exame de necropsia foram achados e necessitam ser corretamente examinados em laboratório. O resultado do laudo deve levar até 30 dias. No entanto, algumas das análises laboratoriais podem ser concluídas antes.
– Sempre trabalhamos com o prazo de 30 dias, pois alguns exames podem demorar mais tempo para serem concluídos, caso sejam também necessários. E para evitar qualquer informação que possa direcionar uma opinião errada sobre o caso, precisamos de todos prontos antes de entregá-los aos órgãos que nos solicitaram.
Barcellos reitera que o dever do Instituto-Geral de Perícias é com a verdade sempre, pois o órgão trabalha apenas com os vestígios e elementos técnicos e científicos presentes e coletados no local. E esses são base para que a Polícia Civil, Brigada Militar e o Ministério Público alicercem as suas conclusões.
Suspeitos são encaminhados para presídio militar
Na noite de sexta-feira (19), os três policiais suspeitos de envolvimento na morte de Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, em São Gabriel, tiveram a prisão preventiva decretada.
Após a audiência de custódia realizada na Justiça Militar Estadual (JME), em Santa Maria, na tarde de sábado, os três policiais militares investigados foram transferidos para o Presídio Militar de Porto Alegre, onde devem permanecer ao menos até a conclusão dos inquéritos da Polícia Civil e do inquérito policial-militar (IPM), da Corregedoria-Geral da Brigada Militar
Conforme a Justiça Militar Estadual (JME), como o processo ocorre sob sigilo, não foram divulgados os nomes dos três policiais suspeitos. O comando da Brigada Militar informou em coletiva que tratam-se um sargento e dois soldados com 16, 15 e 5 anos de serviço na corporação. Também não há informações sobre ter ocorrido, nesta audiência, solicitação de liberdade provisória por parte da defesa dos suspeitos na audiência de custódia realizada sábado. Também não foi informado quem seriam os responsáveis pela defesa dos três investigados.
Na imprensa chegou a circular que, nesta audiência de custódia, a prisão dos militares teria sido prorrogada, o que não é verdade. Como os militares tiveram decretadas suas prisões preventivas, é incorreto afirmar que houve prorrogação.
– Não existe prorrogação quando não foi estipulado prazo, Como trata-se de prisão preventiva, e não prisão temporária, não tem prorrogação – afirma assessor da JME, Marcelo Nepomuceno.
Viaturas do 2º Batalhão de Choque (2º BPChq) chegam ao quartel da Brigada Militar em São Gabriel na noite de sexta-feira (19), após a decisão da Justiça Militar do Estadio de prender preventivamente os três suspeitos. Foto: Maurício Barbosa.
Sem comandante efetivo desde 2016
Na edição do Plantão Bei de sexta-feira (19), a reportagem entrevistou o advogado Solano Costa, designado pela seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Sul (OAB-RS) para acompanhar as investigações do caso. Solano Costa é conselheiro estadual e integrante da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RS. Segundo Solano, informações dão conta de que São Gabriel estaria sem comando efetivo desde meados de 2016.
– Teria quem respondesse interinamente pela unidade, mas nenhum comandante oficial, efetivo, que residisse na cidade – relatou Solano.
Desinformação e mistério
Na quarta-feira (17), cinco dias após o desaparecimento de Gabriel, a irmã do jovem, Soila Marques, disse que família não tinha conhecimento do motivo para que as buscas estivessem concentradas numa região de açude, conhecida como Lava pés, localizada a dois quilômetros do ponto da abordagem. Na última semana, quem respondeu pela Brigada Militar em São Gabriel foi o representante do Comando Regional da Fronteira Oeste, o major Aníbal Silveira, comandante do 2º Regimento de Polícia Montada. Ele reside e atua em Rosário do Sul, no entanto atuou por muitos anos em São Gabriel.
Ao ser questionado sobre o motivo das buscas se concentrarem em um banhado no interior do município, em entrevista na última quarta-feira, Aníbal afirmou que foi o último local em que Gabriel foi visto, sem informar como o jovem teria chegado até lá. O major afirmou que nada de irregular havia sido encontrado com Gabriel, e que o jovem foi somente abordado no local e liberado. Ele também informou que os policiais envolvidos na abordagem ao jovem não estavam presos, mas somente afastados do trabalho no policiamento ostensivo.
– Depois disso, chegou a informação de que ele estaria desaparecido. Então, a Brigada Militar, de pronto, iniciou os trabalhos de busca na região onde o jovem foi visto pela última vez e uma investigação interna – declarou o major, na época.
Conforme informações publicadas em GZH, PMs admitiram que levaram Gabriel até a localidade de Lava Pés após ele ter sido colocado na viatura. Questionado pelo Bei, o major Aníbal Silveira, comandante do 2º Regimento de Polícia Montada, recusou-se a comentar o assunto. Em contato, neste domingo (21), a reportagem questionou o major Aníbal Silveira pelas contradições nas informações repassadas no momento em que o caso veio à tona. Silveira disse que todas as informações referentes ao caso estão sob responsabilidade do Comando Geral da Brigada Militar.
A reportagem encaminhou questionamentos sobre a desinformação e sobre a ausência de comando efetivo no quartel da BM em São Gabriel para a assessoria da Brigada Militar em Porto Alegre, mas até a publicação desta reportagem não obteve retorno.
Créditos : Site BEI