Desde o início deste mês, o Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA) está realizando boletins com informações sobre a estiagem no Rio Grande do Sul, sobretudo, nas lavouras de arroz. O primeiro boletim, divulgado no dia 07 de janeiro foi desenvolvido com informações das últimas duas semanas de 2020.
De acordo com o engenheiro agrônomo do 9º Núcleo de Assistência Técnica e Extensão Rural (Alegrete e Manoel Viana), do IRGA, Ivo Mello, ainda neste período, com base nos dados coletados em novembro e dezembro de 2021, já era possível identificar a falta de recursos hídricos. No entanto, o cenário ainda não apontava perdas irreversíveis. A previsão de chuva que normalmente ocorre neste período, não se concretizou, o que foi agravando a situação nos campos.
Ainda em 07 de janeiro, o Laudo Técnico Preliminar: Potenciais Prejuízos à Atividade Agrícola Devido a Falta de Precipitação Safra 21/22, assinado pelo engenheiro, considerava que nos meses de novembro e dezembro a precipitação havia sido abaixo da média climatológica para a região.
Em relação ao mês de novembro, o laudo apontou que “nas bacias hidrográficas onde o município de Alegrete está inserido, as anomalias de precipitação em relação a média foram de 25% a 50% na parte sul, principalmente do rio Ibirapuitã e de mais de 50% na parte norte, englobando as áreas onde temos maior frequência de lavouras com arroz e soja em rotação”.
No mês de dezembro, o cenário se mostrou semelhante, agravando a situação dos mananciais hídricos da região. De acordo com o sistema de monitoramento do INPE, as precipitações estiveram na faixa de 50 a 99 mm abaixo da normal climatológica.
Conforme explica Ivo Mello, em visitas a campo, a equipe já havia constatado algumas desistências em relação as lavouras de arroz devido a falta de recursos hídricos suficientes para atingir a maturação das lavouras. Ainda, foi possível observar diversas ações por parte dos agricultores com o objetivo de resgatar todo o recurso de água disponível nos reservatórios. De acordo com o relatório, “estas ações poderão, sem dúvidas, mitigar perdas, permitindo irrigar as lavouras neste importante período em que se encontram (reprodutivo), mas por outro lado, vão incrementar os custos de produção de forma a desequilibrar ainda mais a relação custo/benefício das lavouras nesta safra 21/22, que já contabilizam perdas devido a elevação dos custos de insumos e baixa considerável nos preços pagos ao produtor”.
O engenheiro agrônomo esclareceu que naquele momento, de acordo com a previsão de precipitação para o primeiro trimestre de 2022, realizada pela consultora meteorologista do Irga, Jossana Cera, havia a possibilidade de que parte da situação que estava se agravando pudesse ser revertida, conforme as chuvas. Nesse sentido, esperava-se para o mês de janeiro um volume maior de chuva, fato que não se concretizou até o momento.
Ainda naquele período, a estimativa das perdas de áreas de arroz era entre 5% e 10% da área semeada estimada pelo NATE de Alegrete. De acordo com os dados sobre a intenção de semeadura na safra 2021/2022, a estimativa de semeadura no RS era de 957.449 ha e a projeção da fronteira oeste era de 287.148 ha. Com base nestes dados, Mello relata que foi realizado um cálculo de estimativa de perda de arroz que, naquele momento, encontrava-se em 7,5% da área estimada para a safra 21/22, sendo um total de 3.900 ha. No laudo técnico, ele descreve: “Assumindo uma produtividade esperada para esta safra de, no mínimo, 8.500 kg/ha e um preço médio de R$ 62,00/50kg (CEPEA/ESALQ 06/01/2022), podemos estimar as perdas totais em R$ 41.106.000,00”.
No entanto, o engenheiro ressalta que, como a média de chuvas esperadas para o mês de janeiro não ocorreu, os números foram elevados. Dessa forma, a última atualização dos dados, ocorrida nesta quinta-feira (20), aponta que as perdas de 7,5% se elevaram para 10%. Portanto, um prejuízo que, até o momento, já soma R$ 54.808.000,00.
Por fim, o engenheiro agrônomo Ivo Mello ressalta que, estas situações, tanto as épocas de estiagem, quanto de enchentes, são ocorrências esperadas a cada ano. Portanto, ele defende que o que auxiliaria na minimização das perdas é um planejamento para atuação nestas situações. Além disso, medidas como a perfuração de poços e criação de barragens devem ser expandidas na região. Conforme explica, atualmente os recursos hídricos utilizados do Aquífero Guarani não chegam a 20% da capacidade de reposição. Portanto, a região ainda possui recursos que podem ser utilizados. Ainda, outro importante aspecto a ser desenvolvido é a capacitação das pessoas do campo para saberem como lidar com estes episódios.
Entrevista: Repórter Alex Stanrlei
Por Laís Alende Prates – Jornalista Web Notícias Alegrete