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Enfermeira morta em Alegrete cobrava judicialmente um primo por dívida e relatou clima de tensão

jul 10, 2023

 

NOVIDADES NO CASO PRISCILA COMEÇAM A APARECER 

Priscila Ferreira Leonardi ficou desaparecida do dia 19 de junho até 6 de julho, quando seu corpo foi encontrado boiando no Rio Ibirapuitã

A enfermeira Priscila Ferreira Leonardi, 40 anos, encontrada morta em Alegrete no dia 6 de julho, estava cobrando judicialmente uma dívida de um primo. O processo tramita desde o início de 2023 na 2ª Vara Cível da Comarca de Alegrete, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul. 

A origem do caso remete a um bem que seria de Priscila e do seu pai, Ildo Leonardi, falecido em maio de 2020, e do qual o primo supostamente teria se apropriado. Esse familiar chegou a residir com Ildo e, ainda hoje, habita a casa que era do pai de Priscila, no bairro Vila Nova, em Alegrete. 

A enfermeira residia em Dublin, na Irlanda, desde 2019 e contratou um advogado para defender seus interesses em processos relacionados a propriedades na Fronteira Oeste. Representada pelo profissional, Priscila fechou um acordo extrajudicial em 2022 com o primo para receber um ressarcimento pelo bem que estava em discussão. O acerto previa que a quitação seria feita em dezembro de 2022, o que não teria acontecido. Diante do possível descumprimento, Priscila decidiu ingressar judicialmente para fazer a cobrança.

 

 

A enfermeira estava de férias do trabalho na Irlanda e veio ao Brasil para tratar de assuntos particulares, principalmente o inventário da herança deixada pelo pai. As herdeiras são Priscila e uma irmã paterna que ela descobriu tardiamente, em 2019. Rafael Hundertmark de Oliveira, advogado da vítima, ressalta que não havia desavenças no processo do espólio. Uma amiga que reside em Dublin ouvida pela reportagem afirmou jamais ter ouvido qualquer relato de problema entre Priscila e a irmã. A herança do pai era modesta, não envolvia valores significativos: tratava-se de metade da casa de alvenaria, de característica popular, no bairro Vila Nova, e de cerca de 15 hectares de terra em Alegrete.

Rep

Os atritos envolveriam outros familiares por conta de supostas subtrações de bens enquanto Priscila            estava no Exterior. 

   A reportagem teve acesso a uma conversa da enfermeira pelo WhatsApp, no período em que estava em Alegrete, antes de desaparecer na noite de 19 de junho, com uma amiga brasileira que mora em Dublin.

A interlocutora perguntou: “E as coisas aí tudo tranquilo com seu primo (sic)?”. Priscila respondeu em cinco mensagens, indicando que estava se preparando para ir até a casa que era do seu pai e onde vive o familiar: “Mais ou menos na terça eu vou lá. Ver o (que) sobrou das minhas coisas. Ele fala umas coisas para me provocar. Mas tô tentando manter a calma. Criatura insuportável (sic)”.

A enfermeira foi, de fato, até a casa do bairro Vila Nova. Isso aconteceu em uma segunda-feira à noite, no dia 19 de junho, última vez em que teria sido vista com vida. Naquela tarde, ela já tinha faltado uma reunião marcada com o seu advogado para tratar de assuntos relacionados aos processos judiciais. Ela não avisou que se ausentaria do encontro. O que aconteceu depois da saída dela da casa é narrado por uma versão do primo. 

      Ela teria chamado um transporte por aplicativo e embarcado em um veículo de cor preta. O destino dela era a residência de uma prima, também em Alegrete, onde estava hospedada. No dia seguinte, pela manhã, a prima acordou e viu que Priscila não havia pernoitado no local. Todas as tentativas de contato por celular eram infrutíferas. Naquela manhã, a prima que a hospedava e o primo com quem ela esteve na casa foram à Polícia Civil registrar a ocorrência de desaparecimento.

 

Priscila somente seria encontrada em 6 de julho. Um pescador avistou o corpo dela boiando no Rio Ibirapuitã, em local de difícil acesso. O cadáver tinha sinais de espancamento e uma fita branca, semelhante a um esparadrapo grosso, que estava enrolada no pescoço, com várias voltas.

 

Primo narrou ameaça de terceiros em ocorrência

O familiar, ao comunicar o desaparecimento de Priscila, fez o registro de uma série de outros fatos que também o colocaram na situação de vítima de ameaças que teriam sido feitas por quatro homens. O comunicado à Polícia Civil foi feito às 10h38min do dia 20 de junho. A reportagem teve acesso ao boletim de ocorrência feito pelo primo. Ele narrou que um veículo Renault Duster de cor preta parou em frente à residência dele às 7h40min. Um homem desceu do carro, descreveu o primo, e afirmou que ele deveria “abrir o jogo” e dizer o que Priscila tinha, aparentemente se referindo a posses. Segundo o familiar, os homens avisaram que Priscila tinha de acertar uma suposta dívida com um pai de santo. Logo depois do recado, disse o primo, um ocupante da Duster teria abaixado o vidro e mostrado “uma arma longa semelhante a um fuzil”. Ameaças de morte teriam sido feitas à família do rapaz.

No trecho final da ocorrência, o primo afirma que Priscila estava desaparecida desde às 23h30min do dia anterior e que a enfermeira teria embarcado no mesmo veículo Duster preto antes de desaparecer, achando que “se tratava de um Uber”. A enfermeira teria chamado um transporte por aplicativo para ir até a casa de uma prima, onde estava hospedada.

Pessoas que acompanharam os últimos passos da enfermeira em Alegrete afirmam que ela estava usando o aplicativo de transporte Garupa, e não o Uber.

A reportagem conversou com a advogada criminalista Jo Ellen Silva da Luz, que assumiu a defesa do primo. 

 

Até o momento, a Polícia Civil não anunciou nenhuma acusação contra ele ou qualquer outra pessoa. Sobre o processo movido por Priscila contra o primo, além das supostas desavenças entre ambos, a advogada disse que os episódios serão “esclarecidos na delegacia quando eu juntar os documentos que tenho”.

A defensora acrescentou: “Não há bem desviado e, sim, um negócio, no qual o primo pagou uma parte. Tenho provas disso”, registrou, por escrito.

Linhas de investigação 

O caso é investigado pela delegada Fernanda Graebin Mendonça, da 1ª Delegacia de Polícia de Alegrete. Ela afirma que está trabalhando com todas as linhas de investigação e não descarta a hipótese de feminicídio

 

 

 

O exame de necropsia não apontou lesão na região vaginal, mas o estado avançado de decomposição do corpo não permitiu a coleta de material genético, o que permitiria uma apuração mais completa sobre a hipótese de violência sexual. 

Nos depoimentos tomados até o momento, ninguém relatou a existência de relacionamentos atuais ou de ex-namorados de Priscila em Alegrete que pudessem a estar perseguindo. Apesar disso, a Polícia Civil não descarta a linha do feminicídio, já que ela pode ter sido abordada em algum deslocamento. 

A outra possibilidade é de que o homicídio tenha sido motivado por divergências em torno de propriedades.

 

 

Créditos GZH  por:  Carlos Rollsing –   jornalista de 38 anos integra o Grupo de Investigação da RBS (GDI)

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